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de

Por caminhos tortos, vaguei sem rumo,
Buscando um algo sem forma ou nome,
Colecionando silêncios no fundo,
Enquanto a alma, em suspiros, some.


Deixei pedaços de mim pelo chão,
em rostos, em vozes, em enganos.
Já não sei onde pus meu coração,
só sinto o cansaço dos anos.

Vivo entre vozes que nada me dizem,
Num teatro onde finjo a normalidade,
Convivo com vultos que me contradizem,
Seres vazios, sem luz, sem verdade.

Carrego marcas que não escolhi,
algumas doces, outras tão cruéis.
E mesmo as que eu nunca pedi
insistem em sangrar sob meus papéis.

Recordo os dias de olhos brilhantes,
Conversas profundas, risos de alma,
Onde o mundo era feito de instantes
Que aqueciam o peito com doce calma.

Vejo em mim rostos que não são meus,
fragmentos de gente que me feriu.
Tento arrancá-los dos olhos meus,
mas o passado nunca partiu.

Felicidade... essa ladra gentil,
Visita-me às vezes, de modo sutil.
Mas quando me toca, já vai embora,
E eu, sem nada pra dar, só imploro

Convivo entre corpos que não se tocam,
mentes vazias, presas no próprio eco.
Sorriso forçado, palavras que socam,
em um mundo cada vez mais seco.

Sinto nojo do palco onde atuo,
entre lamentos, mentiras e vaidade.
A solidão tem gosto de fel cru,
mas me soa mais doce que a falsidade.

Lembro dos tempos de riso inteiro,
das vozes que pensavam profundo.
Agora me cerco de um travesseiro,
fugindo do absurdo do mundo.

A felicidade me visita escondida,
leva tudo e nunca me dá.
Faz da esperança a sua saída
e me deixa mendiga de amar.