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de


Cansada estou, de copo cheio e alma vazia,
das madrugadas onde só o bar fazia
companhia. Conversas tortas,
palavras que não levam a porta
de um futuro com chão firme e coração calmo.

O bafo de cachaça já não me seduz,
é só o cheiro da desistência em cada cruz
que outras antes de mim carregaram.
Não quero esse fardo,
não quero teus vícios, teus farrapos, teu atraso.

A vida não é só curtição.
Há mais – há leitura no silêncio,
há dança sem som,
há afeto que não precisa de álcool pra se inflar.

Ah, "o mais perfeito dos seres" — ou assim pensei,
com teus olhos que mentiam doçura,
teu sorriso, armadilha bem feita.
Engano vestido de encanto,
farsa que o coração não viu chegar.

Ah, se eu soubesse da cilada,
se ao menos um sussurro do futuro
me alertasse da queda disfarçada em abraço.
Mas fui, cega de esperança,
pisando leve no chão falso da tua presença.

Procuro um ser que me alimente a alma,
que saiba da beleza de um dia claro,
que veja em mim mais que um corpo ao lado.
Quero toque que acolha,
palavra que construa,
olhar que seja ninho, não embriaguez.

Não serei eco de histórias repetidas,
de mulheres que aceitaram migalhas vividas.
Eu mereço mais – Muito mais!
não teu copo,
mas um cais.