28
de

Há um caos que ninguém vê pulsando,
na mente que insiste em resistir.
Cada dia é um fio se rompendo,
cada noite, um tentar não desistir.

Oscila entre gritos e silêncios,
entre o ódio e o riso disfarçado.
Carrega no peito mil incêndios,
e o corpo, exausto, pede cuidado.

“Levanta!”, dizem com desdém e pressa,
sem saber da dor que não se mostra.
Como andar se a alma está dispersa,
presa em neblinas que ninguém aposta?

Ela sangra por dentro e sorri por fora,
anulando-se por quem não a vê.
Empurra-se ao dia, mesmo sem aurora,
mesmo afogada em não saber o porquê.

E mesmo assim, ainda luta calada,
mesmo quando só deseja partir.
Há beleza na alma despedaçada,
que insiste, cansada, em não desistir.

10
de


Te amei num tempo em que amar doía,
quando tua boca mentia e meus olhos negavam,
me fiz pequena, sombra do que eu era,
na esperança vã de que um dia tu mudarias, 

Tuas palavras, veneno doce e raso,
me prendiam em laços que eu não via,
cada gesto, um passo para o abismo
que eu chamava de amor… e não sabia.

Fui silêncio onde eu devia ter sido grito,
fui espera em noites sem retorno,
te dei minha luz, meu o riso mais bonito,
e em troca, ganhei um mundo sem contorno.

Mas hoje, me ergo das cinzas 
teus fantasmas já não me fazem morada,
cortei as cordas que me seguravam,
sou vento, sou mar e agora sou estrada.

O fim não veio como um trovão raivoso,
mas como um suspiro de alívio e de razão.
O amor já tinha morrido, silencioso,
restava apenas minha libertação.

Agora caminho com passos inteiros,
não sou metade, sou por inteira.
Fui tua, mas não mais do que a mim me pertenço.
Enfim livre, e enfim… em paz, eu venço.