24
de


Naquela tardezinha, o mundo pesava demais,
E eu só queria que a dor cessasse, enfim.
Não era a vida que eu queria deixar pra trás,
Era o sofrimento, gritando dentro de mim.

Na penumbra serena, caixas empilhadas,
Psicoativos — parei de contar no setenta e oito.
Na esperança de calar feridas 
Tentei silenciar o caos, sem alarde, sem açoite.

Engoli o silêncio em formas e doses,
Ansiando por paz, por um descanso breve.
Não por ausência, mas por horas menos atrozes,
Menos agudas, menos tristes, menos febris.

Era março, e o tempo parou no chão,
Entre batidas fracas do coração e a escuridão.
Meu corpo, cansado, buscava perdão,
Enquanto a alma afundava em negação.

Não fui covarde, nem busquei o escuro,
Fui só alguém cansada de insistir.
Queria um alívio — mesmo que não fosse seguro,
Só um intervalo pra poder existir.

E hoje carrego cicatrizes caladas,
Não como culpa, mas como sinal:
Sobrevivi às tardes mais sombrias e geladas,
E sigo, mesmo que sem final ideal.