Cansada estou, de copo cheio e alma vazia,
das madrugadas onde só o bar fazia
companhia. Conversas tortas,
palavras que não levam a porta
de um futuro com chão firme e coração calmo.

O bafo de cachaça já não me seduz,
é só o cheiro da desistência em cada cruz
que outras antes de mim carregaram.
Não quero esse fardo,
não quero teus vícios, teus farrapos, teu atraso.

A vida não é só curtição.
Há mais – há leitura no silêncio,
há dança sem som,
há afeto que não precisa de álcool pra se inflar.

Ah, "o mais perfeito dos seres" — ou assim pensei,
com teus olhos que mentiam doçura,
teu sorriso, armadilha bem feita.
Engano vestido de encanto,
farsa que o coração não viu chegar.

Ah, se eu soubesse da cilada,
se ao menos um sussurro do futuro
me alertasse da queda disfarçada em abraço.
Mas fui, cega de esperança,
pisando leve no chão falso da tua presença.

Procuro um ser que me alimente a alma,
que saiba da beleza de um dia claro,
que veja em mim mais que um corpo ao lado.
Quero toque que acolha,
palavra que construa,
olhar que seja ninho, não embriaguez.

Não serei eco de histórias repetidas,
de mulheres que aceitaram migalhas vividas.
Eu mereço mais – Muito mais!
não teu copo,
mas um cais.

Quem poderia preencher este vazio no peito,
Chegar tão perto, sem me ferir com o tempo?
Invadir meus pensamentos de um jeito perfeito,
E acalmar em mim todo esse tormento?

Quem me faria esquecer meus próprios planos,
Só pra viver um romance feito canção?
A cada aurora, renovar novos enganos,
E ainda assim, aquecer meu coração?

Aprendi a silenciar minhas tempestades,
A ser abrigo mesmo sem direção.
Carrego em mim mil possibilidades,
Mas não imploro por outra mão.

Talvez eu não tenha nascido pra realidade,
Procuro um papel que nunca quis existir 
A não ser nos livros e na eternidade
Que os poetas insistem em construir.


"Eu não sei se sou o pugilista ou o saco de pancadas!"