Sem criatividade para escrever,
Sem vontade de ao menos pensar.
Sem saco pra resumir tudo em palavras,
Apenas o desejo de que elas possam aliviar...

Não quero encontrar rima no que digo,
Nem me prender à formalidade.
Métrica, regras, toda essa estrutura...
Só quero descrever o que vejo e sinto,
Sem a ilusão da perfeição ou da verdade.

Na realidade, nem sei o que quero desabafar,
Talvez minha repulsa por essa nova geração.
Tento explicar o que vejo ao lançar o olhar,
Mas tudo me escapa, como uma frustração.

Sinto-me estrangeira, sem lugar ou identidade,
Vejo a fome estampada no olhar de uma criança,
E jovens tão mais jovens que eu,
Trancados em bolhas de falsa esperança.

Vejo a ânsia de ser diferente
E o vazio de quem se julga são.
Vejo aqueles que se dizem cultos e sábios,
Mas são apenas mais gado no meio do rebanho.

Essa juventude me cansa, a futilidade me desgasta,
O materialismo me assusta, a vulgaridade me corrói.
Cansei também dessa falta de pensar,
E de argumentos vazios que nada constrói.

Me torno apática a cada dia,
Sinto nojo do mundo ao meu redor.
Sexo, amor, amizade — tudo banal,
Como se nada mais tivesse valor.

E o que sobra depois da náusea?
Talvez um eco, um grito mudo no escuro,
Ou a certeza de que ser estrangeira
É o preço de quem enxerga além do muro.

Se o mundo é esse que se molda à cegueira,
Que sejamos então as vozes errantes.
Melhor caminhar contra a maré
Do que afogar-se entre os ignorantes.




Caminho por ruas que a alma não vê,
Perdida em mim mesma, sem rumo ou lugar.
Buscando o abrigo que um dia sonhei,
E forças pra enfim conseguir te deixar.

Teu riso — maldição em forma de luz,
Fez de meu peito um sepulcro em flor.
Fui anjo em teus abraços, sem ter uma cruz,
Agora sou mártir do próprio amor.

Fui presa da tua palavra encantada,
Caí sem defesas na tua ilusão.
E mesmo ferida, de alma arrasada,
Guardei teu perfume em meu coração.

Mas juro, do abismo que em mim se abriu,
Hei de rasgar-te com garras da dor.
Arranco-te o nome, ainda que a frio,
E volto a ser livre, sem mais teu "amor".

Busquei verdades no tempo que escorre,
Vi vidas partindo, o fim sem perdão.
E o "game over", que aos poucos socorre,
Chegou sem glória, sem redenção.

Mudei de caminhos, de céus e de chão,
Conheci mestres, paixões, ilusões.
Mas dentro de mim, em cada estação,
Cresciam espinhos, morriam canções.

Carrego o ódio, a mágoa, o rancor,
Não sou heroína, nem alma de luz.
Vivi o teatro sem riso, sem cor,
Com sonhos partidos na mesma cruz.

Quero a liberdade que nasce de mim,
Voar sem ter medo, viver sem temor.
Enquanto escrevo, respiro meu fim,
Sou viva na tinta, sou verbo e sou dor.


De repente, o mundo silenciou-se em pranto,
E o riso teu, outrora sol nos meus caminhos,
Partiu-se em sombras — tal flor ao vento, ao encanto —
Restando em mim saudade e espinhos.

O tempo, esse tirano de asas frias,
Desfez promessas, diluiu juras no ar.
As almas que tomei por poesias
Sumiram — folhas mortas a bailar.

Oh, doce amor, quimera tão falaz!
Quem há de doar-se sem querer retorno?
Se o peito que pulsa, já não sente paz,
Por que ainda sonho, neste mundo morno?

O amor... acaso é dança de interesse?
Um jogo vão de passos descompassados?
Cada um, com seu compasso, se envaidece
E deixa corações despedaçados.

E o tempo — cura ou carne viva?
O que é o tempo, senão ilusão cruel?
Como calar a lembrança ativa
Que ressurge ao sopro de qualquer papel?

As sombras do passado ainda sussurram,
Fantasmagóricas, vagando ao meu redor.
E o futuro? Um mar que nunca se inaugura.
O agora, efêmero — apenas pó.

Sempre temi a dor do arrependimento,
E livre fui, escrava dos meus anseios.
Mas hoje, sou prisão e sou tormento,
Sou névoa em meus próprios devaneios.

Há uma dor sem rosto dentro em mim,
Um pulsar que fere, sem razão, sem fim.
Minh’alma vaga em laços tão sutis,
Em busca de respostas que não vi.

Despertei do sonho — o mais sombrio,
Crendo ser ilusão, um breve medo...
Mas era real o abismo tão vazio,
E nele, enfim, me vejo e me concedo.

Voltei ao templo de outrora, à velha estrada,
Buscando rastros do que foi encanto.
Só encontrei minh’alma abandonada,
O eco meu — e o céu em pranto.

Sou invisível, fui talvez sempre assim,
A crer que era amor o que era só miragem.
E hoje, a dor que habita dentro em mim
É minha sombra, minha eterna personagem.