De repente, o mundo silenciou-se em pranto,
E o riso teu, outrora sol nos meus caminhos,
Partiu-se em sombras — tal flor ao vento, ao encanto —
Restando em mim saudade e espinhos.

O tempo, esse tirano de asas frias,
Desfez promessas, diluiu juras no ar.
As almas que tomei por poesias
Sumiram — folhas mortas a bailar.

Oh, doce amor, quimera tão falaz!
Quem há de doar-se sem querer retorno?
Se o peito que pulsa, já não sente paz,
Por que ainda sonho, neste mundo morno?

O amor... acaso é dança de interesse?
Um jogo vão de passos descompassados?
Cada um, com seu compasso, se envaidece
E deixa corações despedaçados.

E o tempo — cura ou carne viva?
O que é o tempo, senão ilusão cruel?
Como calar a lembrança ativa
Que ressurge ao sopro de qualquer papel?

As sombras do passado ainda sussurram,
Fantasmagóricas, vagando ao meu redor.
E o futuro? Um mar que nunca se inaugura.
O agora, efêmero — apenas pó.

Sempre temi a dor do arrependimento,
E livre fui, escrava dos meus anseios.
Mas hoje, sou prisão e sou tormento,
Sou névoa em meus próprios devaneios.

Há uma dor sem rosto dentro em mim,
Um pulsar que fere, sem razão, sem fim.
Minh’alma vaga em laços tão sutis,
Em busca de respostas que não vi.

Despertei do sonho — o mais sombrio,
Crendo ser ilusão, um breve medo...
Mas era real o abismo tão vazio,
E nele, enfim, me vejo e me concedo.

Voltei ao templo de outrora, à velha estrada,
Buscando rastros do que foi encanto.
Só encontrei minh’alma abandonada,
O eco meu — e o céu em pranto.

Sou invisível, fui talvez sempre assim,
A crer que era amor o que era só miragem.
E hoje, a dor que habita dentro em mim
É minha sombra, minha eterna personagem.

3 comentários:

Muito bom, Luany.

PALAVROSSAVRVS REX

Me pergunto porque não tinha vindo a este blog antes...

Estava procurando uma letra de Engenheiros e acabei topando com teu post. Incrível minha ex-noiva terminou o nosso relacionamento de 4 anos sem motivos justificáveis isso aconteceu ha mais de um ano, lendo o q vc escreveu, fiquei reflexivo lembrando de todos aqueles sentimentos que povoaram o meu coração e a minha alma durante aqueles nefastos dias e meses que se seguiram, pensava solitário: Como as pessoas conseguem ser tão indiferentes à dor lancinante de um coração partido? Como aquela pessoa que amamos tanto é capaz de fazer isso conosco? Difícil aceitar a realidade das coisas nestas circunstâncias. Resta-nos apenas a frieza do tempo na expectativa de que este possa dar sua contribuição para acalmar a alma e abrandar o sofrimento. Percebo que já faz 2 anos do teu post, acredito que já nem deves lembrar deste texto, mas, saiba que ágüem que passou por aqui gostou muito de lê-lo e que de alguma maneira sentiu-se muito próximo de vc por compartilhar da mesma intensidade sentimental que demonstraste nestas breves linhas, fico feliz de ver que beleza e inteligência andam juntas em vc. Um grande beijo e muito obrigado pelo seu texto.

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