Há em mim uma fúria antiga. Não é explosão breve, é incêndio lento, é magma contido sob a crosta da civilidade. Aprendi cedo a chamar de “calma” o que sempre foi repressão. Mas a fúria permanece, respira comigo, arde silenciosa enquanto o mundo exige compostura. Sou ateia. Não por rebeldia rasa, mas por lucidez dolorosa. Neguei os deuses porque eles sempre exigiram silêncio diante da injustiça, resignação diante da dor, docilidade diante do absurdo. Prometeram céu enquanto a vida ardia no inferno do agora. Não me ajoelho diante de ausências. Não consolo meu sofrimento com promessas vazias. Prefiro a verdade nua à mentira vestida de esperança. Viver dói porque se espera de mim serenidade. Sorrisos moderados. Palavras polidas. Um comportamento aceitável, como se sentir demais fosse falha de caráter. Este mundo ama os dóceis, os adaptáveis, os que engolem a própria revolta e chamam isso de maturidade. Mas eu não sei ser mansa num mundo que me violenta todos os dias. Há momentos em que quero gritar. Não metáforas, mas verdades. Cruas. Sem ornamentos, sem piedade, sem o cuidado de não ferir sensibilidades frágeis. Quero lançar aos quatro ventos o que todos sabem, mas fingem não ver. Quero rasgar os véus da hipocrisia, expor as feridas que chamam de normalidade, nomear o que se prefere esconder sob discursos gentis. Minha fúria não é destruição gratuita. Ela nasce do excesso de lucidez, da consciência de viver num mundo que exige silêncio dos que sangram e bons modos dos que sofrem. Ser educada, aqui, é muitas vezes consentir. E eu não consinto. Sou ateia, sim Pois minha moral não vem do medo do castigo, vem do reconhecimento da dor alheia. Se não creio em deuses, creio na responsabilidade brutal de existir sem desculpas celestes. Nada nos salvará. E é justamente por isso que tudo importa. Sou fúria porque me negaram espaço. Sou fúria porque me pediram calma quando o mundo ardia. Sou fúria porque a serenidade imposta é apenas outra forma de violência. E se minhas palavras incomodam, é porque a verdade raramente sabe se sentar direito à mesa.
Quem sou?
Quem sou? Mas até onde tu sabes de ser? Eu, nada sei de ser, além do pó e cinzas que um dia serei. E que em outro tempo tornaram-me quem sou, quem fui. Dificil dizer quem sou, se tenho em mim vários personagens. Mas isso não quer dizer que cada um não seja um pedaço de minha alma.
Luany Nascimento.
Luany Nascimento.
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