Dos sonhos meus vieste então,
trazendo luz ao coração.
Teu jeito doce e o olhar sereno,
um misto de medo e encanto pleno.

Nos teus abraços, sinto abrigo,
teu toque é paz, és meu amigo.
Palavras tuas, sempre belas,
como estrelas a brilhar no infinito.

Menino dos sonhos, razão do meu bem,
tiraste-me a dor, não sofro mais além.
De onde vieste, tão cheio de luz?
Tão doce encanto, que me conduz?

Quando te olho, perguntas baixinho:
— “O que houve, amor, meu doce carinho?”
E eu, sorrindo, disfarço a emoção,
mas no teu rosto mora a paixão.

Se te sorrio, sorris também,
num ar tímido, que faz tão bem.
Se te encaro, desvias ligeiro,
mas em teus olhos vejo um braseiro.

Leva-me às nuvens, me faz sonhar,
segura minha mão, vamos voar!
Rumo ao destino que o vento conduz,
vivendo o amor, banhados de luz.


O tempo escorre e sigo na contramão,
Com flores secas presas à memória,
Amores ficaram na curva da estação,
E eu caminho sem rumo, sem vitória.

Gente que vem, que vai, sem permanecer,
Olhares vazios, promessas que se desfazem,
E eu, estrangeira de mim, sem entender
Por que tantos brilhos se apagam e passam.

Nas madrugadas, café, fumaça e pensar,
O relógio insiste em me lembrar que estou só.
Procuro sentido onde não sei procurar,
E danço, por dentro, num silêncio sem dó.

Queria dançar sem música, sem chão,
Despir a alma da dor que tanto pesa.
Esquecer do mundo, da culpa, da razão,
E ser leve, ao menos, na minha tristeza.




Te amei aos dezesseis, com pressa e medo,
Sem saber lidar com o peso de um “nós”.
Tão nova, tão crua, perdida em segredo,
Fugi do amor... e deixei para trás tua voz.

Fostes o riso sem esforço, o calor no frio,
Tua presença bastava pra me iluminar.
Com teu silêncio doce e o olhar tão sutil,
Fizeste meu peito inteiro se incendiar.

Mas temi o futuro, temi crescer contigo,
Tudo era sério demais pra tão pouca idade.
Eu, imatura, pus fim no que era abrigo,
Confundi amor com medo da verdade.

Hoje te guardo em um canto sereno e profundo,
Amor primeiro, que não volta, nem se desfaz.
És cicatriz bonita, és meu velho mundo,
A lembrança que o tempo não leva jamais.

E se o tempo me levar, num último suspiro,
Levarei comigo teu nome no coração.
Pois foste meu amor mais puro, mais límpido,
A chama que ardeu sem pedir explicação.

Sem criatividade para escrever,
Sem vontade de ao menos pensar.
Sem saco pra resumir tudo em palavras,
Apenas o desejo de que elas possam aliviar...

Não quero encontrar rima no que digo,
Nem me prender à formalidade.
Métrica, regras, toda essa estrutura...
Só quero descrever o que vejo e sinto,
Sem a ilusão da perfeição ou da verdade.

Na realidade, nem sei o que quero desabafar,
Talvez minha repulsa por essa nova geração.
Tento explicar o que vejo ao lançar o olhar,
Mas tudo me escapa, como uma frustração.

Sinto-me estrangeira, sem lugar ou identidade,
Vejo a fome estampada no olhar de uma criança,
E jovens tão mais jovens que eu,
Trancados em bolhas de falsa esperança.

Vejo a ânsia de ser diferente
E o vazio de quem se julga são.
Vejo aqueles que se dizem cultos e sábios,
Mas são apenas mais gado no meio do rebanho.

Essa juventude me cansa, a futilidade me desgasta,
O materialismo me assusta, a vulgaridade me corrói.
Cansei também dessa falta de pensar,
E de argumentos vazios que nada constrói.

Me torno apática a cada dia,
Sinto nojo do mundo ao meu redor.
Sexo, amor, amizade — tudo banal,
Como se nada mais tivesse valor.

E o que sobra depois da náusea?
Talvez um eco, um grito mudo no escuro,
Ou a certeza de que ser estrangeira
É o preço de quem enxerga além do muro.

Se o mundo é esse que se molda à cegueira,
Que sejamos então as vozes errantes.
Melhor caminhar contra a maré
Do que afogar-se entre os ignorantes.




Caminho por ruas que a alma não vê,
Perdida em mim mesma, sem rumo ou lugar.
Buscando o abrigo que um dia sonhei,
E forças pra enfim conseguir te deixar.

Teu riso — maldição em forma de luz,
Fez de meu peito um sepulcro em flor.
Fui anjo em teus abraços, sem ter uma cruz,
Agora sou mártir do próprio amor.

Fui presa da tua palavra encantada,
Caí sem defesas na tua ilusão.
E mesmo ferida, de alma arrasada,
Guardei teu perfume em meu coração.

Mas juro, do abismo que em mim se abriu,
Hei de rasgar-te com garras da dor.
Arranco-te o nome, ainda que a frio,
E volto a ser livre, sem mais teu "amor".

Busquei verdades no tempo que escorre,
Vi vidas partindo, o fim sem perdão.
E o "game over", que aos poucos socorre,
Chegou sem glória, sem redenção.

Mudei de caminhos, de céus e de chão,
Conheci mestres, paixões, ilusões.
Mas dentro de mim, em cada estação,
Cresciam espinhos, morriam canções.

Carrego o ódio, a mágoa, o rancor,
Não sou heroína, nem alma de luz.
Vivi o teatro sem riso, sem cor,
Com sonhos partidos na mesma cruz.

Quero a liberdade que nasce de mim,
Voar sem ter medo, viver sem temor.
Enquanto escrevo, respiro meu fim,
Sou viva na tinta, sou verbo e sou dor.


De repente, o mundo silenciou-se em pranto,
E o riso teu, outrora sol nos meus caminhos,
Partiu-se em sombras — tal flor ao vento, ao encanto —
Restando em mim saudade e espinhos.

O tempo, esse tirano de asas frias,
Desfez promessas, diluiu juras no ar.
As almas que tomei por poesias
Sumiram — folhas mortas a bailar.

Oh, doce amor, quimera tão falaz!
Quem há de doar-se sem querer retorno?
Se o peito que pulsa, já não sente paz,
Por que ainda sonho, neste mundo morno?

O amor... acaso é dança de interesse?
Um jogo vão de passos descompassados?
Cada um, com seu compasso, se envaidece
E deixa corações despedaçados.

E o tempo — cura ou carne viva?
O que é o tempo, senão ilusão cruel?
Como calar a lembrança ativa
Que ressurge ao sopro de qualquer papel?

As sombras do passado ainda sussurram,
Fantasmagóricas, vagando ao meu redor.
E o futuro? Um mar que nunca se inaugura.
O agora, efêmero — apenas pó.

Sempre temi a dor do arrependimento,
E livre fui, escrava dos meus anseios.
Mas hoje, sou prisão e sou tormento,
Sou névoa em meus próprios devaneios.

Há uma dor sem rosto dentro em mim,
Um pulsar que fere, sem razão, sem fim.
Minh’alma vaga em laços tão sutis,
Em busca de respostas que não vi.

Despertei do sonho — o mais sombrio,
Crendo ser ilusão, um breve medo...
Mas era real o abismo tão vazio,
E nele, enfim, me vejo e me concedo.

Voltei ao templo de outrora, à velha estrada,
Buscando rastros do que foi encanto.
Só encontrei minh’alma abandonada,
O eco meu — e o céu em pranto.

Sou invisível, fui talvez sempre assim,
A crer que era amor o que era só miragem.
E hoje, a dor que habita dentro em mim
É minha sombra, minha eterna personagem.