De repente, o mundo silenciou-se em pranto,
E o riso teu, outrora sol nos meus caminhos,
Partiu-se em sombras — tal flor ao vento, ao encanto —
Restando em mim saudade e espinhos.
O tempo, esse tirano de asas frias,
Desfez promessas, diluiu juras no ar.
As almas que tomei por poesias
Sumiram — folhas mortas a bailar.
Oh, doce amor, quimera tão falaz!
Quem há de doar-se sem querer retorno?
Se o peito que pulsa, já não sente paz,
Por que ainda sonho, neste mundo morno?
O amor... acaso é dança de interesse?
Um jogo vão de passos descompassados?
Cada um, com seu compasso, se envaidece
E deixa corações despedaçados.
E o tempo — cura ou carne viva?
O que é o tempo, senão ilusão cruel?
Como calar a lembrança ativa
Que ressurge ao sopro de qualquer papel?
As sombras do passado ainda sussurram,
Fantasmagóricas, vagando ao meu redor.
E o futuro? Um mar que nunca se inaugura.
O agora, efêmero — apenas pó.
Sempre temi a dor do arrependimento,
E livre fui, escrava dos meus anseios.
Mas hoje, sou prisão e sou tormento,
Sou névoa em meus próprios devaneios.
Há uma dor sem rosto dentro em mim,
Um pulsar que fere, sem razão, sem fim.
Minh’alma vaga em laços tão sutis,
Em busca de respostas que não vi.
Despertei do sonho — o mais sombrio,
Crendo ser ilusão, um breve medo...
Mas era real o abismo tão vazio,
E nele, enfim, me vejo e me concedo.
Voltei ao templo de outrora, à velha estrada,
Buscando rastros do que foi encanto.
Só encontrei minh’alma abandonada,
O eco meu — e o céu em pranto.
Sou invisível, fui talvez sempre assim,
A crer que era amor o que era só miragem.
E hoje, a dor que habita dentro em mim
É minha sombra, minha eterna personagem.