Há dias em que a alegria não chega fazendo barulho. Ela se revela nas pequenas coisas, quase tímida, mas profundamente verdadeira. Está no modo como acordo, no modo como sigo, no modo como continuo, mesmo quando o corpo e a mente pedem cuidado. Meu ser, por vezes indisciplinado, tenta negociar com limites, flerta com excessos, aprende lentamente que viver exige atenção e delicadeza. Não é fraqueza. É humano. É o exercício diário de permanecer inteira.
No meio disso tudo, a música me encontra. Ouvir o que gosto reorganiza o mundo dentro de mim. Quando The Smiths toca, algo se solta. O corpo se move sem cobrança, apenas por existir. Danço sem técnica, sem intenção de beleza, apenas deixando o som atravessar. E então, Nicolle se aproxima. Minha doce e pequena Nicolle. Ela dança comigo, com suas mãozinhas inventando gestos que só a infância conhece. Eu acompanho como posso, passos simples, braços suaves. Nossos ritmos são diferentes, mas dançam juntos. E ali, naquele instante, a vida se ilumina. Porque há amor em movimento.
E há ele. Meu esposo. Meu companheiro. Minha melhor companhia. Há dez anos caminhando comigo, nos dias bons e nos dias difíceis, sem nunca soltar minha mão. Somos felizes do nosso jeito, um jeito simples, mas profundamente nosso. Nossa felicidade se constrói todos os dias. No filme escolhido à noite. Na série que acompanhamos juntos. Nos jogos divididos no sofá. No café compartilhado sem pressa. No almoço preparado com cuidado e afeto.
Quando fico doente, ele cuida de mim. Com atenção, com paciência, com um amor que não precisa ser dito, porque se mostra em cada gesto. Ele me observa, me acolhe, me protege. Conversar com ele é um prazer que nunca se cansa. Sempre lúcido, inteligente, sensível. Amoroso de um jeito raro. Ah, como o amo.
Nos conhecemos aos treze anos, ainda tão jovens, ainda tão incompletos. A vida nos afastou, nos fez crescer separados, aprender o que era preciso aprender. Só nos reencontramos aos vinte e cinco, quando já sabíamos, finalmente, ficar. Talvez o tempo tenha sido generoso justamente por isso. Porque nos ensinou a chegar prontos para cuidar.
Hoje, olho para minha família e sei. Sei com clareza, sem dúvida alguma. Somos felizes. Construímos isso todos os dias, com gestos pequenos, com escolhas conscientes, com amor cotidiano. Meu esposo e minha filha são luzes na minha vida. Luzes que não cegam, mas aquecem. Luzes que tornam possível seguir.
E se felicidade existe, ela mora aqui. Neste amor vivido sem espetáculo, mas com profundidade. Neste cotidiano simples, extraordinário, verdadeiro.
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