Em mim habita Epimeteu,
mãos velozes, pensamento acelerado,
age antes do juízo, dança no risco,
acende fogueiras sem medir o vento.


É a vertigem da mania: excesso e impulso,
o mundo possível porque tudo parece agora.
Há também a queda, sem nome antigo,
Brusca, abismo sem figura que o explique.


Um peso que apaga o dia por dentro,
onde o fogo se extingue em silêncio
e a vida se arrasta em gravidade espessa,
Tristeza profunda, melancolia imóvel, riso ausente.

No intervalo raro em que o tempo se equilibra,
sou Prometeu em vigília contida:
fogo consciente, limite aprendido,
correntes afrouxadas pelo cuidado.

É a fase eutímica: não o excesso, nem a falta,
mas o difícil ato de permanecer inteira.
E quando tudo cessa, surge Pandora:
não a da curiosidade, mas da apatia.

Com a caixa já aberta, os ruídos calados,
Ainda assim, no fundo, quase invisível,
resta o vazio que não dói e nem pulsa.

A bipolaridade é travessia sem margem fixa,
um ajuste contínuo do próprio eixo.
Remédios que se sucedem, nomes que mudam,
quando o corpo aprende e o efeito se esgota.

Busca-se equilíbrio como quem sustenta um fio:
com um pé na lucidez e outro flertando com a loucura.


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