19
de

 É laico o Estado, diz a Constituição, 
mas na escola há prece e imposição. 
A fé circula entre quadros e lições, 
silenciando outras visões e religiões. 

A LDB, em rito, abre o portão
pro ensino da crença sob o véu da "opção". 
E a BNCC, com fala polida, 
normatiza o "sagrado" na vida. 

Entre "valores" e "formação moral", 
o neutro cede ao juízo pastoral. 
O cristianismo, travestida de conteúdo, 
ganha no jogo que molda o estudo. 

Laicidade vira carta esquecida
no baralho de interesses da vida. 
Educar pra pensar é perigoso: 
prefere-se o aluno manso e piedoso.

13
de

 


Quando tua mão repousa sobre a minha,
Sinto o universo inteiro tão pequeno,
Perdido na alvorada que se aninha.

Teu riso é melodia que embriaga,
Mais doce que o luar sobre as roseiras,
E o mundo — essa tormenta que se apaga —
Se curva à paz das nossas brincadeiras.

Oh, vida! Que esplendor na flor singela
Que juntos colhemos na manhã dourada;
O pão, café, a mesa tão singela,
São tronos de um reinado em madrugada.

E se o tempo ousar passar com dor,
E o outono desfolhar nossos sorrisos,
Que ele leve o mundo e todo ardor —
Mas nunca os nossos sonhos precisos.

12
de


Na casa pequena, o sol se derrama,
Pelas frestas dança sem pedir licença.
Um cheiro de pão, café e quem ama
Preenche o tempo com leve presença.

O riso da filha ecoa na sala,
Enquanto a mãe penteia o amanhã,
E o pai, com calma que nunca se exala,
Guarda o silêncio como quem tece lã.

Papéis no chão, lápis de colorir,
A filha desenha tudo o que vê —
Um sol, um gato, um céu a expandir,
Na ponta leve do lápis e do porquê.

E quando a noite pousa devagar,
Três corpos se encostam — puro calor.
Ali mora o encanto de habitar
O mesmo instante, no mesmo amor.


10
de

 

Minh’alma é pálida... é triste... é solitária...
Como um cipreste ao vento do cemitério.
Carrega o frio de uma névoa funerária
E o sonho morto de um amor etéreo.

A vida? Um livro em páginas rasgadas,
Um riso falso entre soluços vãos...
E minhas noites, longas, desmaiadas,
São como preces lançadas aos grãos.

Oh! quantas vezes, no silêncio amigo,
Senti-me a sombra do que fui outrora...
Um vulto errante, sem abrigo,
Como quem vive — e lentamente chora...

Talvez, um dia, ao fim desta agonia,
Encontre paz — no túmulo, talvez.
Pois só na morte o coração alivia
A dor que a vida não matou de vez.

10
de

 

Amar é luz que brota sem medida,
É vento manso em tarde de calor,
É ter no peito a dança mais sentida,
É flor que nasce mesmo em dissabor.

É gesto simples, puro, sem vaidade,
É mão que toca sem querer possuir,
É se doar com leve intensidade,
É construir sem medo de cair.

Amar é ver no outro o próprio espelho,
E mesmo assim, querer multiplicar,
É ser abrigo, paz e ser conselho,
É caminhar sem nunca se afastar.

E quando o amor floresce em silêncio,
Sem grito ou pressa pra se revelar,
É como céu que azul se faz imenso:
É vida em paz, é dom de se entregar.