Em copos d'água se afogam meus dias,
pílulas contadas com precisão cirúrgica.
A mente — essa sala escura —
tenta acender lâmpadas que só piscam.
Começou com ESC ODT na boca,
Lítio e Quetiapina — promessa oca.
Rivotril fechava as noites em branco,
mas o corpo tremia em silêncio franco.
Depois veio Olanzapina, calada,
mesmo ESC, mesma estrada.
Rivotril seguia, velho disfarce,
mas a alma já pedia um desenlace.
Tentaram Bupropiona em novo papel,
com Aripiprazol num laço cruel.
O Lítio ainda lá, fiel companheiro,
mas devaneios varriam meu travesseiro.
E então: Bupropiona, Sertralina,
Lítio e Rivotril na mesma esquina.
Mais uma aposta, um último laço,
mas a mente seguia em pedaços.
Tremedeiras dançavam sem aviso,
do peito aos dedos, sem juízo.
E a cabeça em espirais tão soltas,
costurava delírios em linhas tortas.
Sete nomes, cinco meses, nenhum descanso.
Troca-se o remédio, mantém-se o abismo.
Nenhum silêncio no caos da mente,
só ecos, barulhos, dor persistente.
Não há receita que cure o cansaço
de ser laboratório do próprio desespero.
TAG, TOC, Bipolar... um trio desafinado
regendo sinfonias de pensamentos suicidas.
Mas escrevo, mesmo sem rimas
Porque enquanto escrevo, ainda estou.
Ainda tento.
Ainda resisto.
Entre os cacos, a escrita é o meu único grito vivo.