É laico o Estado, diz a Constituição, 
mas na escola há prece e imposição. 
A fé circula entre quadros e lições, 
silenciando outras visões e religiões. 

A LDB, em rito, abre o portão
pro ensino da crença sob o véu da "opção". 
E a BNCC, com fala polida, 
normatiza o "sagrado" na vida. 

Entre "valores" e "formação moral", 
o neutro cede ao juízo pastoral. 
O cristianismo, travestida de conteúdo, 
ganha no jogo que molda o estudo. 

Laicidade vira carta esquecida
no baralho de interesses da vida. 
Educar pra pensar é perigoso: 
prefere-se o aluno manso e piedoso.

 


Quando tua mão repousa sobre a minha,
Sinto o universo inteiro tão pequeno,
Perdido na alvorada que se aninha.

Teu riso é melodia que embriaga,
Mais doce que o luar sobre as roseiras,
E o mundo — essa tormenta que se apaga —
Se curva à paz das nossas brincadeiras.

Oh, vida! Que esplendor na flor singela
Que juntos colhemos na manhã dourada;
O pão, café, a mesa tão singela,
São tronos de um reinado em madrugada.

E se o tempo ousar passar com dor,
E o outono desfolhar nossos sorrisos,
Que ele leve o mundo e todo ardor —
Mas nunca os nossos sonhos precisos.


Na casa pequena, o sol se derrama,
Pelas frestas dança sem pedir licença.
Um cheiro de pão, café e quem ama
Preenche o tempo com leve presença.

O riso da filha ecoa na sala,
Enquanto a mãe penteia o amanhã,
E o pai, com calma que nunca se exala,
Guarda o silêncio como quem tece lã.

Papéis no chão, lápis de colorir,
A filha desenha tudo o que vê —
Um sol, um gato, um céu a expandir,
Na ponta leve do lápis e do porquê.

E quando a noite pousa devagar,
Três corpos se encostam — puro calor.
Ali mora o encanto de habitar
O mesmo instante, no mesmo amor.


 

Minh’alma é pálida... é triste... é solitária...
Como um cipreste ao vento do cemitério.
Carrega o frio de uma névoa funerária
E o sonho morto de um amor etéreo.

A vida? Um livro em páginas rasgadas,
Um riso falso entre soluços vãos...
E minhas noites, longas, desmaiadas,
São como preces lançadas aos grãos.

Oh! quantas vezes, no silêncio amigo,
Senti-me a sombra do que fui outrora...
Um vulto errante, sem abrigo,
Como quem vive — e lentamente chora...

Talvez, um dia, ao fim desta agonia,
Encontre paz — no túmulo, talvez.
Pois só na morte o coração alivia
A dor que a vida não matou de vez.

 

Amar é luz que brota sem medida,
É vento manso em tarde de calor,
É ter no peito a dança mais sentida,
É flor que nasce mesmo em dissabor.

É gesto simples, puro, sem vaidade,
É mão que toca sem querer possuir,
É se doar com leve intensidade,
É construir sem medo de cair.

Amar é ver no outro o próprio espelho,
E mesmo assim, querer multiplicar,
É ser abrigo, paz e ser conselho,
É caminhar sem nunca se afastar.

E quando o amor floresce em silêncio,
Sem grito ou pressa pra se revelar,
É como céu que azul se faz imenso:
É vida em paz, é dom de se entregar.


Na infância, o grito era chama acesa,
"Formiga contra elefante",
Destemida, fui pimentinha em brasa,
Desafiando a vida, mesmo na ameaça.

Na adolescência, o sono virou espera,
Três horas por noite, a mente sincera.
Livros, poesias, vozes em segredo,
Rabiscavam minha dor e meu medo.

As cicatrizes, marcas do que calei,
Em silêncio, nos cortes me expliquei.
Na pele, desenhei o que ninguém via,
Buscando alívio na dor que ardia.

Psiquiatras, diagnósticos e medos,
Entre surtos e remédios, meus enredos.
Tentei voar, mesmo sem ter chão,
Mas a queda me trouxe mais compreensão.

Fui "maluca beleza", como Raul cantou,
E em meio à loucura, a coragem brotou.
Entre delírios e noites em claro,
Minha alma pedia um rumo mais claro.

A gravidez foi luz, mas também tormenta,
Chorava baixinho, com alma sedenta.
Nicolle, meu sol, meu recomeçar,
A razão que me fez continuar.

Hoje entendo quem sou, meu papel,
intensa, céu, inferno e fel.
O TAB não me define, é só parte de mim,
Sou poema inacabado, flor no capim.

Não sou laudo, nem rótulo, nem sentença,
Sou mulher, sou mãe, sou resistência.
Na gangorra da mente, sigo a bailar,
Mas agora com sabedoria pra me equilibrar.

No trono que ela mesma ergueu,
Reflete o brilho que só ela vê,
Seus passos medem a própria narrativa,
No palco onde a luz imaginária só nela é.

Sussurra ao mundo verdades de espelho,
Escuta apenas o som do seu tom,
Quem tenta entrar, é visto como erro,
Pois reina só, onde amor não tem dom.

Cultiva espinhos num jardim de orgulho,
Colhe aplausos no vazio interior. 
Sorri por fora, no gesto inseguro,
Mas foge da luz que revela o rancor.

Seu mundo gira em torno do seu nome,
Mas todo ego, um dia, se consome,
Num silêncio frio, calado e pesado.

Soberba é muro alto e sem janela,
Imagem vã que alimenta a ilusão.
É não saber que há vida além dela,
E que o amor não cabe na solidão.

Quem vive só da própria imagem viva,
Se perde aos poucos na escuridão,
Pois orgulho que nunca se cativa,
É prisão feita de autonegação.

Em copos d'água se afogam meus dias,
pílulas contadas com precisão cirúrgica.
A mente — essa sala escura —
tenta acender lâmpadas que só piscam.

Começou com ESC ODT na boca,
Lítio e Quetiapina — promessa oca.
Rivotril fechava as noites em branco,
mas o corpo tremia em silêncio franco.

Depois veio Olanzapina, calada,
mesmo ESC, mesma estrada.
Rivotril seguia, velho disfarce,
mas a alma já pedia um desenlace.

Tentaram Bupropiona em novo papel,
com Aripiprazol num laço cruel.
O Lítio ainda lá, fiel companheiro,
mas devaneios varriam meu travesseiro.

E então: Bupropiona, Sertralina,
Lítio e Rivotril na mesma esquina.
Mais uma aposta, um último laço,
mas a mente seguia em pedaços.

Tremedeiras dançavam sem aviso,
do peito aos dedos, sem juízo.
E a cabeça em espirais tão soltas,
costurava delírios em linhas tortas.

Sete nomes, cinco meses, nenhum descanso.
Troca-se o remédio, mantém-se o abismo.
Nenhum silêncio no caos da mente,
só ecos, barulhos, dor persistente.

Não há receita que cure o cansaço
de ser laboratório do próprio desespero.
TAG, TOC, Bipolar... um trio desafinado
regendo sinfonias de pensamentos suicidas.

Mas escrevo, mesmo sem rimas
Porque enquanto escrevo, ainda estou.
Ainda tento.
Ainda resisto.
Entre os cacos, a escrita é o meu único grito vivo.


Minha alma é um túmulo em noite cerrada,
Onde o pranto é silêncio e a dor é segredo.
Sinto em mim, como noiva abandonada,
A angústia de viver... sem rumo, sem medo.

Há dias em que o mundo me pesa demais,
E os sonhos se arrastam em luto calado.
Meu riso se perde, meus olhos mortais
Só veem o vazio — tão frio, fechado.

Sou sombra do que fui — suspiro quebrado,
Poetisa sem versos, 
saudade sem nome.
O espelho me nega, o tempo, alucinado,
Apaga quem sou... me dissolve no lume.

Oh, que ânsia de noite! Que tédio profundo!
Carrego no peito um punhal que não corta.
Neste drama cruel de existir neste mundo,
A tristeza é irmã... e a esperança, tão morta.


O céu se fecha em nuvem e luz,
O lago espelha o que a alma conduz.
No banco, o tempo quase se cala,
Enquanto o coração lentamente fala.

Palmeiras dançam ao vento do sul,
E o fim de tarde pinta tudo de azul.
O olhar se perde na ponte ao fundo,
Como quem busca sentido no mundo.

O sol escorre por trás da paisagem,
Feito lembrança em lenta passagem.
Silencia em luz dourada,
Na pele um eco, na mente, mais nada.

E ali parada, entre o ontem e o agora,
A vida respira sem pressa, sem hora.
O Parque guarda, com calma e ternura,
A jovem, o instante, a sombra e a cura.


No chão rachado, o sol a brilhar,
Segue o passo firme, sem hesitar.
O vento sopra histórias do sertão,
Silêncio e sonho em cada direção.

Vestido rubro, contraste no pó,
Entre cercas tortas e um céu tão só.
A trilha guarda segredos no ar,
De um tempo antigo a sussurrar.

A serra à frente, guardiã do lugar,
Ergue-se imensa a nos inspirar.
Pedra da Boca, enigma sem voz,
Observa o mundo bem longe de nós.

Quem por ali caminha devagar,
Leva na alma o cheiro do lugar.
Araruna canta em tom de raiz,
Natureza bruta, alma feliz.


No alto da pedra, braços abertos,
Sinto o vento contar seus segredos.
A alma dança entre céus e vales,
Livre, sem medo, sem rede ou rodeios.

O mundo lá embaixo, tão pequeno,
Enquanto aqui tudo é imensidão.
Os sonhos ecoam entre montanhas,
No compasso calmo do coração.

Cabelos ao vento, cor de alvorada,
Vestem de luz minha contemplação.
Sou parte da terra, da rocha e do tempo,
Sou riso, sou brisa, sou canção.

E assim permaneço, sem pressa ou destino,
Com o horizonte a me embalar.
Porque há momentos que são eternos,
Mesmo que o tempo insista em passar.


Minha doce Nicolle, estrela a brilhar,
Com olhos tão vivos, cheios de cor,
Tua risada é um canto no ar,
Um eco divino de puro amor.

Traquina e esperta, és raio de sol,
Espoleta que só, pula sem hesitar,
No mundo danças sem medo ou anzol,
Pronta a sonhar, voar e criar.

Com lápis na mão, desenhas tudo que vê,
Colores o mundo com tons de emoção,
Cada traço teu, magia sentida,
Retrata o brilho do teu coração..

Cada abraço teu é um porto seguro,
Cada beijo, um lume que aquece meu ser,
És meu presente, meu grande futuro,
Razão mais bela de tanto viver.

Filha querida, és bênção suprema,
Minha poesia, ternura sem fim,
No teu sorriso, renasce um poema,
Que fala do amor que não tem fim.

Dez anos se passaram, e aqui estamos nós,  
Dois corações que o tempo não separou,  
Que enfrentaram ventos, tempestades e sóis,  
Mas nunca deixaram de pulsar em amor.  

Ao teu lado descobri a força do abraço,  
O refúgio seguro no meio do caos,  
O brilho sereno no instante do cansaço,  
O amor que ecoa, eterno e imortal.  

Do nosso amor nasceu um presente sublime,  
Pequena e doce, nossa menina-luz,  
Metade de mim, metade de ti,  
Razão que nos une e sempre conduz.  

E quando o mundo pesa sobre meus ombros,  
É no teu olhar que encontro meu lar,  
Te amo em cada suspiro profundo,  
Te amo sem pressa, sem medo de amar.
  
Dez anos se foram, e tantos mais virão,
Seguiremos de mãos dadas,
Entrelaçados corações,
Amo-te hoje e um pouco mais a cada manhã.



Com amor, carinho e afeto para meu querido e amado esposo Elly-Berto. 

Os dias deslizam entre caixas marcadas,
nomes difíceis, doses contadas.
Engulo promessas de alguma constância,
mas sinto na boca o gosto da ânsia.

Manhãs pesadas, engulo o silêncio,
Bupropiona e Lítio me prendem no tempo.
À noite, Sertralina apaga memórias,
Rivotril me apaga—sou sombra, sou vento.

Subo no trilho da euforia sem freio,
o mundo é meu—até ser devaneio.
Despenco no abismo sem ter quem segure,
o corpo implora, mas a alma não jura.

De olhos abertos, mas sempre fechados,
procuro um sentido entre sonhos rasgados.
A vida se arrasta num ciclo sem cor,
cansada demais pra sentir qualquer dor.

E se um dia eu jogar tudo ao chão?
Se rasgar receitas, negar prescrição?
Talvez me liberte, talvez me desfaça—
mas que diferença faz, se já sou só fumaça?


A mente é um furacão sem freio,

um raio cortando o céu da razão,  

ideias fervilham, correm em meio  

ao caos sem pausa, sem direção.  


No alto, sou luz, sou fogo, sou vento,  

palavras dançam sem eu perceber,  

o mundo é rápido, é puro invento,  

ninguém me alcança, não há porquê.  


Mas vem a queda, crua e fria,  

no peito o peso de mil abismos,  

os dias são névoa, noite vazia,  

e eu me perco em meus próprios ismos.  


O corpo é âncora na tempestade,  

pesado, inerte, afundando em si,  

presa do tempo, da gravidade,  

silêncio que grita: "fica aqui".  


Serotonina, dopamina, noradrenalina,  

tudo em uma dança que move meu ser.  

Pra mania, sou chama que nunca declina,  

pra depressão, sou sombra a se esconder.  


Neurotransmissores, hormônios, tudo biológico,  

mas há quem diga que é frescura ou falta de querer.  

Como se a dor fosse um ato ilógico,  

e não um fardo que eu nunca quis ter.  


E assim eu oscilo, entre céu e abismo,  

sem chão que me prenda, sem ar pra voar,  

prisioneira do próprio mutismo,  

refém de mim mesma, sem me alcançar.



Venho por meio da escrita
para liberar o tudo que sinto,
Mas sinto tantas coisas
Que me perco entre as linhas.

A tristeza me veste em silêncio,
um véu frio sobre a pele cansada,
e a apatia arrasta meus passos
como folhas secas na estrada.

Os dias pesam em meus ombros,
nublados, sem cor, sem sentido.
O tempo escorre entre os dedos,
como um sonho já esquecido.

Há um abismo dentro do peito,
ecoando vazio e solidão.
Um grito preso na garganta,
sem voz, sem rumo, sem razão.

E mesmo que a escuridão me abrace,
meu coração ainda pulsa, ainda chama.
Pois onde há amor, há esperança,
e uma chama pequena ainda inflama.